“O cristianismo leva a efeito um movimento de completa desvalorização da imanência em proveito da transcendência. (…) O Cristianismo representa, assim, a desvalorização absoluta do ‘mundo’ e da ‘vida’ em proveito de uma vida imaginária, de um ‘além-do-mundo’, nele se realiza um deslocamento radical do centro de interesse, que se transfere ‘deste mundo’ para um ‘outro mundo’, um mundo metafísico. Com isso, priva-se ‘este mundo’, o domínio do vir-a-ser e da imanência, de todo e qualquer sentido… A invenção metafísica de um ‘além-do-mundo’ eternamente subsistente, pátria originária da Verdade, da Justiça e da Beleza, ponto de culminância da ascese filosófica, que se apresenta como condenação e rejeição do mundo insubsistente das sombras e das aparências, essa invenção tem sua raiz numa vontade fundamental que vivencia a finitude (e a dor que esta inexoravelmente condiciona) como objeção contra a vida, como motivo para renegá-la em boa consciência, justificando o sofrimento unicamente como meio, caminho, passagem, ascensão para a paz, o repouso… Já o essencial dos cultos dionisíacos consiste, para Nietzsche, num mergulho redentor na imanência, onde não se trata mais de instaurar um juízo que divide, condena, renega, mas de proclamar um sim à vida em sua crua integridade, uma bendição trágica da existência: a vida exuberante que retorna e ressurge eternamente da destruição e da dor que ela própria inelutavelmente conjura.” – OSWALDO GIACÓIA em “Labirintos da Alma: Nietzsche e a auto-supressão da moral” (Ed. da Unicamp – pg. 38 e 187)
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Publicado em: 13/08/13
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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chicoary
Comentou em 06/10/13